20 de abril de 2010

"De Qué Callada Manera"

"O resgate do jardineiro no brejo da cruz"
Técnica mista sobre Canson - A3


"De que calada maneira
Você chega assim sorrindo
Como se fosse a primavera
Eu morrendo
E de que modo sutil
Me derramou na camisa
Todas as flores de abril"
[Pablo Milánes / Chico Buarque]


Não muito relacionado com as coisas ai em cima, mas que muito me desperta novos ares e inspirações, coloco aqui um trecho de "Quarto de bdaluques XXX" do Rubem Alves:

Meus filhos, eu os abençôo: Aos pais eu faço a sugestão de que nesse dia a eles dedicado leiam a página de Gibran Khalil Gibran no seu livro O Profeta, com o título “Os filhos”. “Vossos filhos não são vossos filhos. Eles vêm através de vós mas não são de vós, e apesar de estarem convosco não vos pertencem. Sois os arcos dos quais seus filhos, como flechas vivas, são arremessados na direção do alvo que o arqueiro vê no infinito.” Uma vez disparada, a flecha voa para longe do arco que fica, vazio... A imagem é linda. Mas não me parece que seja totalmente verdadeira. E isso porque a flecha, ainda que não atinja o alvo, vai sempre na direção do alvo que o arqueiro viu. Sugiro, então, uma alteração: “Vossos filhos são flechas que, uma vez disparadas, se transformam em pássaros que voam para onde querem e não na direção do alvo que o arqueiro viu.” Ser pai é alegrar-se com o vôo do pássaro, livre, para longe, numa direção não sonhada. Se eu tivesse voado na direção do alvo que meu pai viu eu seria um engenheiro, talvez um médico. Pode até ser que eu tivesse atingido sucesso profissional e tivesse me tornado um homem rico. Mas minhas asas me levaram para um lugar que nunca passou pelos seus sonhos, e nem mesmo pelos meus... Nunca imaginei que seria escritor. Parece que as asas sabem mais sobre as direções da alma que nossos pensamentos. E estou contente. E nesse dia abençôo meus filhos nos seus vôos.

É isso.