22 de setembro de 2016

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Ser.

10 de outubro de 2012

Sociedade Desescolarizada(1)(3)



Oficina livre de Pipa. Ocupação Eliana Silva, Belo Horizonte - MG. Setembro / 2012




"Muitos estudantes, especialmente os mais pobres, percebem intuitivamente o que a escola faz por eles. Ela os escolariza para confundir processo com substância. Alcançado isto, uma nova lógica entra em jogo: quanto mais longa a escolaridade, melhores os resultados; ou, então, a graduação leva ao sucesso. O aluno é, desse modo, «escolarizado» a confundir ensino com aprendizagem, obtenção de graus com educação, diploma com competência, fluência no falar com capacidade de dizer algo novo. Sua imaginação é «escolarizada» a aceitar serviço em vez de valor"
Ivan Illich

Quando comecei a filmar o documentário sobre educação democrática em janeiro, com o Raul Perez (http://oracaoemmovimento.blogspot.com.br/2012/06/o-controle-nas-escolas-tem-dias.html), era forte defensor de uma escola repensada (ou alternativa se considerarmos como padrão a escola disciplinadora atual), mas não cogitava defender a desescolarização(2) em nenhum momento, até porque eu ainda pouco compreendia sobre o assunto.

Uma das mais importantes entrevistas que realizamos foi com Tião Rocha, uma longa e deliciosa lição de vida, carregada de ricas experiências, que durou quase três horas (fizemos apenas duas perguntas). Tião declarou-se abertamente contra a escola, argumentou sobre as posições hierárquicas, sobre o poder e sobre a profunda diferença entre ensinar e aprender, onde o Educador é aquele que aprende. Tião expressava uma certa aversão até mesmo a palavra escola, me parecia algo dolorido a ele, falar desta instituição.

Semanas depois fomos filmar o CPCD em Curvelo - MG, projeto plataforma que Tião e sua equipe desenvolvem em algumas cidades do Brasil, entre os projetos que abarca estão três educacionais, todos no contra-turno escolar, nunca como escolas. Então comecei a entender aquilo, a democracia na pedagogia da roda, o aprender brincando e a convivência com muita afetividade. Mas ainda assim não entendia porque ele não reinventou a escola institucional, ao menos assim ele não forçaria meninas e meninos a ficarem presos em um dos períodos do dia.

Depois foi a vez da Tia Dag, na Casa do Zezinho. Senti em sua fala a mesma dor e a mesma aversão ao falar da escola. A essas alturas (mais de quatro meses respirando o filme e o projeto) eu já estava muito mais convencido do que durante o processo de pesquisa, de que a escola atual, disciplinadora, é pior do que presídio, que aliás os presídios são inspirados nas escolas. Mas ainda assim, não compreendia por qual motivo ela e sua equipe foram capazes de em 18 anos construir aquela coisa maravilhosa, que atende hoje mais de 1000 crianças diariamente (de forma democrática, estimulando a criatividade, a convivência afetiva, o conhecimento das cosias e de sí mesmo, ...) e não ter de alguma forma reinventado a escola obrigatória, a instituição.

Até que, enfim, tomei contato com a obra de Ivan Illich, em especial o livro "Sociedades sem escolas". E entendi como foi fundamental não ter descoberto isso antes, mas durante o processo. Illich é um visionário, já falava em 1971 sobre as redes de conhecimento e o aprendizado livre, longe da hierarquia escolar que reproduz o massacrante modelo atual de nossa civilização. Em sua obra ele descontrói o progresso e as instituições, demonstra claramente o absurdo que estamos cometendo com as escolas que temos hoje. E mais especialmente ainda, no final de seu livro, discorre sobre o processo de aprendizado em rede, do modo como este caminho é libertador.


Obviamente que se trata de algo radical se compararmos com a situação atual, já que nossa sociedade é profundamente arraigada no vigiar e punir controlador das instituições. Mas tomar contato com este texto, me fez compreender que a reinvenção pode ser muito mais complexa e certamente não será homogênea. Teremos em um primeiro momento diversas escolas (ou não escolas) em diversos lugares de diversas formas (cada uma se reinventando e sendo, enquanto individualidade, enquanto escola única, assim como me alertou José Pacheco em 2009). E em um segundo momento, algo que talvez ainda nem consigamos conceber na imaginação, mas arrisco dizer que serão as verdadeiras cidades-escolas, com aprendizado livre, onde tudo e todos os lugares são propícios a troca, as vivências, a propagação do conhecimento, da arte, da expressão e da vida.

Para concluir, uma dose de inspiração:





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(1) O título desta postagem é uma analogia / homenagem ao livro de mesmo nome do visionário autor Ivan Illich. Disponível em: http://www.4shared.com/office/1cC1b3wP/Ivan_Illich_-_Sociedade_sem_Es.html


(2) des + escolarizar. Escolarizar (dicionário aurélio): Submeter-se ao ensino escolar.

(3) O título original desta postagem era "Sociedade sem escolas", o que foi alterado conforme sugestão de Luiz de Campos, conforme pode ser verificado no comentário.

28 de julho de 2012

Remar.





Na semana passada pude assistir a um dos mais belos filmes lançados recentemente (o melhor do ano até agora, sem dúvida), "On the Road" dirigido por Walter Salles sobre a principal obra de Jack Kerouac. Gostei muito da história (não li o livro) e da leitura que a equipe de realizadores fez dela. Conseguiram me sensibildzar profundamente sobre o potencial que temos em ser nós mesmos, de como expandimos, potencializamos e a nossa capacidade gigantesca de realizar - é quando rompemos com as amarras sociais e controladoras que conseguimos ascender sobre nós mesmos.



O filme me levou a refletir profundamente em como cedemos ao massacre social - o que o Agusto de Franco tem escrito sobre a Matrix - que nos impedem, nos formatam e homogenizam. Para romper com isso e realizar, e ser, e voar, apenas vendo as coisas de um jeito diferente, conseguindo escapar do sistema que nos bloqueia, se rebelando e enlouquecendo com este. Apenas assim conseguimos vencer a nós mesmos (e tudo aquilo que aprisionaram em nós) e fazermos de nosso mundo aquilo que queremos.



Sobre isso ainda escrevi para uma querida amiga esses dias:

"Questões positivas da vida. Por favor, fé na vida que os espíritos remam muito a nosso favor, a correnteza joga a favor, so temos que remar (trabalhar) que tudo flui. Não podemos é remar ao contrário - isto é: impedindo nossos processos, pensando e concentrando pensamentos fixos no cansaço, no desanimo e nos desdobramentos na falta de fé - ser velho é só pra quem desacredita, ser jovem é pra todos que seguem sonhando, que entendem que o espírito é eterno e que ser jovem é questão de mente aberta apenas."

26 de junho de 2012

O controle nas escolas tem dias contados

Roda de contação de histórias, projeto Sementinha (CPCD) em Curvelo - MG. 15/05/2012


"Pois sonhos são testemunhos,
de que a alma se recusa
a se tornar um pássaro engaiolado"
Rubem Alves


Como alguns sabem, estou realizando com o Raul Perez um documentário sobre Educação Formal Alternativa, trata especialmente de educação democrática e dialoga com Pedagogia Espírita e "Educação tradicional". A ideia começou a germinar quando visitei a Escola da Ponte (http://oracaoemmovimento.blogspot.com.br/2011/01/impressoes-escola-da-ponte.html) em Janeiro de 2011, quando na ocasião encontrei o Raul (amigo de longa data) que estava de intercâmbio em Coimbra. Então ao longo de 2011 buscamos pessoas, leituras, filmes e obviamente estudar e realizar documentários. Em Janeiro começamos a rodar, período que se estende até o presente, com cerca de 90% do material gravado e filme começando a tomar forma na montagem. Foram mais de 20 entrevistas com muita gente bacana, Luiz Algarra, Tião Rocha, Helena Singer, Simone André (Instituto Ayrton Senna), Dora Incontri, Leonardo Brant, Alexandre Sayad, Tia Dag e muitos outros, além de boas conversas com José Pacheco e outros.


Além das entrevistas, registramos 3 escolas (iremos registrar mais uma) e 2 projetos de contra-turno escolar. É ai evidentemente que mora o trunfo e o mais incrível das vivências do projeto: as crianças. Antes que me perguntem, as escolas democráticas em geral não tem sala de aula (nem aula), horário definido, turmas homogêneas, algumas não tem nem mesmo turma. Em geral, as crianças pautam suas atividades, o que querem estudar, quando querem estudar, aonde querem estudar. Se precisam, vão ao computador, a biblioteca, aos tutores, aos murais de ajuda, enfim, são autonomas para definir suas ações. As crianças vão se desenvolvendo em ritmos diferentes, aprimorando potencialidades diferentes e criando muito, a criatividade é sempre muito estimulada. E ao contrário do que muitos pensam a primeira vista: A ausência do controle não gera baderna nem indisciplina, muito pelo contrário. As crianças vão naturalmente atrás de desenvolver seus gostos e vontades, criam uma relação afetiva positiva com o conhecimento e aprendem a ser educadas - fator fundamental para conviver em comunidade.




Mapa visual Educação formal alternativa
 Mapa que criamos no processo de pesquisa teórica -  Janeiro, 2012.






Ontem foi dia de gravar mais uma diária no Projeto Âncora (escola que vem sendo carinhosamente construída em Cotia - SP), fomos registrar uma roda de conversa com as crianças da Turma do Aprofundamento, turma que tem o maior grau de autonomia na escola, onde cada educando elege o que quer fazer, quando quer fazer, pedindo ou não orientação e auxílio de colegas e tutores. Me fascina como são educadas essas crianças, me fascina como são livres para pensar, como são criativas e vivas. Sim porque criança é pra ser viva e não morta como a maioria dos adultos que vão se alienando com o tempo. Criança livre é como pássaro fora da gaiola, sabe fazer voar nos ventos da imaginação, não se prendem no ninho dada a sede de autonomia, vão logo caminhando com as próprias pernas, com ritmo e passos próprios.


Um dos meninos muito nos encantou, Lohan (me perdoa se escrevi teu nome errado) de 9 anos, disse que vai escrever um roteiro de filme de terror, pra gravar comigo e com Raul, nos falava isso em meio a suas criações que misturavam personagens da mitologia grega. Ele não é especial, é criança normal, a diferença é que sem o controle rígido da "escola tradicional" (que temos desde o século XVII) ele caminha por onde quer, desenvolve muito mais suas potencialidades, colabora muito mais com seu meio de vivência, é mais vivo e voa mais, muito mais.


Um dos sintoma simples que me diz tudo isso é: Essas crianças gostam da escola que frequentam, já viu em alguma "esocola tradicional" criança gostar de frequentar? são raros....


Mas fico tranquilo, Pestalozzi (e muitos outros) já propuseram novas formas de fazer a escola há muito tempo, nós que ainda somos lentos para captar os exemplos. Já está tudo acontecendo, tudo se transformando no silêncio, quando Pacheco me disse que acompanhava mais de 50 projetos de escolas que realizam educação de uma forma diferente no Brasil, eu assustei, mas logo fui entendendo que as mudanças estão acontecendo no silêncio e tem muita gente fazendo diferente. Além é claro em outras frentes contemporâneas como o homeschooling que finalmente começa a chegar com efeito no Brasil.


Em tempo de greve nas federais, de míseros 5% do PIB para a educação, o ideal mesmo seria implodir o MEC (como sugeriu Pacheco no Congresso de Arte-educação em Sp, 2009) ou pelo menos as Secretarias que tanto aprsionam o sistema.


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Não posso deixar de citar e agradecer os queridos amigos que muito colaboram pra essa obra: Rafael Barreiro e Julia Rufino.

Em breve iremos lançar o projeto no Catarse, para conseguir através de Investimento / financiamento coletivo, a verba para editar e finalizar o filme. Pretendemos lançar ainda este ano, disponibilizando tudo grauitamente online, inclusive as entrevistas completas.

3 de maio de 2012

Surpresas e frustrações...




"Precisamos fazer um exercício difícil, mas extremamente necessário: o exercício do desprendimento de nossas expectativas" 
( Bento José / Pedro Camilo )


Surpresa e frustração de uma pessoa em relação a outra são derivadas da esperança de algo em relação aquelas pessoas. Só nos frustramos ou nos surpreendemos com alguém quando julgamos ela, criamos um resumo - concepção a seu respeito (quando resumimos todo aquele universo de um infinito histórico que é aquela pessoa - espírito a algumas posturas, fatos, títulos e atitudes) e nos deparamos com algo não esperado a essa concepção - resumo.
Portanto, não é interessante que eu me frustre ou me surpreenda com alguém, mais que isso, que eu crie concepções - resumo a seu respeito, pois, estarei tirando sua liberdade de ser e seu livre arbítrio de agir (além de me julgar superior a ela).






9 de fevereiro de 2012

Ninguém aguenta ser massa...

Tom Zé no Trama / Radiola - Arquivo

"A faixa esmagada vive bem, mas se sente brutalizada por que ninguém é gente.
Ninguém aguenta ser massa!"

Ontem a noite tive o prazer de participar de uma roda de conversa com Gustavo Taretto, o diretor Argentino de Medianeras (um dos filmes que considero dos melhores de 2011, muito recomendo). O filme trata do Amor em Buenos Aires na era virtual, onde dois jovens que moram na mesma rua não se encontram. Como muitas outras obras do invejável cinema Argentino, trata de coisas simples do cotidiano e dessa forma atinge profundamente as pessoas que estão sonhando aquele sonho coletivo na sala do cinema.

Respondendo a uma das últimas perguntas, que tratava do porque os Europeus invejam tanto a criatividade do cinema Latino Americano, ele disse mais ou mens o seguinte: "Na Europa tudo funciona, esse aburguesamento estraga a criatividade. Na América Latina nada funciona direito, você para conseguir viver, tem de ser muito criativo, pois aqui a vida é muito imprevisível. Já na Europa é tudo muito previsível".

Então matutando algumas reflexões, conclui que talvez, devido a intensa imprevisibilidade da vida aqui (desempregos, crises, pobreza, transporte, enchentes, ...) é que haja tanta esperança e fé. Pois há uma constante crença de que as coisas vão acontecer e que vão dar certo (são poucos os que realmente desacreditam, são tachados de pessimistas). E esse acreditar fortalece e move as pessoas, fazendo com que de modo criativo e com escassos recursos, se ajuntando, se ajudando (em especial nas comunidades mais pobres), elas fazem as coisas acontecer, fazem ser possível sua realização. Essa coisa de estar sempre em crise (e não se iludam com a economia, a miséria continua a existir nas esquinas Brasileiras) fortalece muito o fazer e a forma de fazer na América Latina. E mais, acho que a forma caótica de sobrevivermos (em função da imprevisibilidade) é que nos faz crescer, aprender e evoluir tanto (aos que percebem e se abrem pra isso obviamente, que se permitem), pois é sabido que por mais doloridos e temidos, são os momentos de crise que nos fazem refletir profundamente, sair do estado mecânico e alienante, se forçando a recriar caminhos, escolhas, planos e ações.

Por isso, tive um certo repúdio quando no final do ano passado o Guido Mantega afirmou que "serão necessários até 20 anos para que os brasileiros tenham um padrão de vida semelhante ao dos europeus", pois não quero um padrão de vida semelhante ao Europeu. Quero ao contrário, fortalecer cada vez mais um modo Latino de vida digna (e que o Brasil se vire de frente para a América Latina finalmente...), que não me deixe ser alienado porque tudo funciona e dá certo. Nossa vida ainda precisa de muita Tropicália. Tom Zé que o diga...

3 de fevereiro de 2012

"Felicidade é Só querer": Ela também tem penas, também quer voar.

"Felicidade é Só querer": Ela também tem penas, também quer voar. | Pastel Oleoso sobre Papel 300gr. texturizado | Fevereiro / 2012


Encontrou uma que tem penas na cabeça também, que também quer fazer voar a imaginação. Muito tempo depois da primeira, a inspiração chegou pra esta. E por ai, há um lugar...